28/06/2013

'Revoltas de Junho'

Esquerda e direita

Pensando naquele texto muito legal de direita/esquerda do Antonio Prata, fui escrevendo, embalada pela música do Tom Zé...

Não, eu não curto a direita. Não é só questão de partido (é também, mas não só).

O modo de pensar o mundo da direita não me representa, não representa a maioria explorada e é um dos motivos da minha dor de estômago crônica. A direita me adoece.

Os partidos de direita podem dar umas dentro, fazer algo bom de vez em quando, algo que seja direcionado à massa mais pobre. Mesmo assim, sempre q o fizeram foi como efeito colateral de benefícios para a elite, os grandes negócios e o capital internacional.

A elite, os grandes negócios e o capital internacional são de direita. O que não quer dizer que no meio da elite não existam pessoas de esquerda, que, por definição, estão abertas a dividir seus privilégios e perder várias mamatas.

Não, eu jamais votarei no PSDB . E nem tô falando no caso óbvio de um lunático como o Aécio Neves. Em geral mesmo.

Eu acredito em projeto. Se a esquerda faz merda e se "endireita", trai seu projeto, se desvia dele.

O projeto da esquerda é maior do que os bons e maus atos de seus partidos. É um projeto popular por excelência.

O projeto da direita é o da grandeza capitalista via neoliberalismo. Ele pressupõe a existência de uma classe explorada numerosa e de uma classe média capaz de fazer o trabalho sujo para a elite (cobrar que os pobres recebam ainda menos dos governos e, como pagamento, ficar com uma versão bastante simplificada da "qualidade de vida" dos mais ricos).

A organização da classe média como um exército da elite e a manutenção da pobreza, inclusive pela via da caridade e da despolitização, são projetos de direita.

A reunião da classe média com os mais pobres é um projeto de esquerda. É importante que a classe média perceba que seus benefícios sempre muito inconstantes são sustentados a partir de um jogo sujo, com regras feitas pela elite. Quando a classe média perceber que a elite é sua verdadeira inimiga e algoz, que os cortes devem ser feitos em cima, não embaixo, muita coisa vai mudar.

Que a maioria numérica da população tenha uma vida classe média e mantenha a elite contra a parede pra sempre é uma ideia de esquerda.

Blindar a elite e promover o ódio de classe entre pobres e classe média, enquanto se faz de administrador neutro, é de direita. Eu sou super classe média, filha de classe média, neta de povo de roça e não caí no truque: sou de esquerda.

Taxar e dividir grandes fortunas privadas é um projeto de esquerda que parte da esquerda abandonou. Mas jamais seria um projeto de direita, percebem?

Quando tem um candidato que não é de esquerda nem de direita, desconfiamos duramente q ele esteja no projeto de direita. A neutralidade é super de direita, que o digam os jornais e as TVs...

O projeto da direita é estimular a ideia de vencer na vida. Só que o plano inclui que um saia do fundo de um poço, pelado e sem comida, outro saia de botas, nível da rua e bem alimentado, outro dentro de um blindado off-road com buffet balanceado e outro de avião sendo alimentado de bandeja por um top chef. O objetivo é chegar ao topo de uma montanha. E quando o que foi de avião ganha, o do blindado chega em segundo, o de botas consegue chegar graças ao q o do blindado deixou cair no caminho e o do poço mal consegue sair do poço, dizem que é questão de mérito. A meritocracia do truque é cinismo e é super de direita.

O projeto de esquerda é uma guerra de posições. A classe média precisa marchar ao contrário, na direção das periferias. Abandonar a linha de frente da elite e descer pro play. Uma vez resolvidos ou acordados novos termos, os médios e os mais pobres têm de partir juntos num esquema perdeu, playboy. Sua fortuna giga será taxada pesadamente. Perdeu.

Ah, mas o filho do Lula... Taxar todas as megafortunas, inclusive a do filho do Lula, é de esquerda. Odiar o Lula só pode ser de direita, desculpa, mas é verdade.

Eu sou de esquerda mas não sou besta. O problema da esquerda nesses tempos é que ela é pouco radical. Dizer que ser radical é sempre algo ruim enquanto age radicalmente na defesa de seu patrimônio é bem coisa de direita.

Não me lembro de alguém protestando contra o PSDB estar dando alguma coisa pra população pobre, contra algum programa social deles... Se alguém souber de algo do tipo por favor me conte. Não gostar do PSDB nem debaixo de chuva de felicidade no arco-íris é de esquerda.

Cada um com sua consciência, cada um com suas escolhas, mais ou menos livres.

Eu não sigo a direita. Olha que frase de esquerda mais bonita pra brilhar muito no face e no twitter!

A web é daóra porque mostra que existe um embate entre esquerda e direita. E que ele é sustentado pela luta de classes. Mostrar que há embate é de esquerda.

Fique atento.