23/09/2005

exame.com

Fraqueza do PT é evidente com desistência de concorrer à Câmara

Partido do presidente da República e dono, até o momento, da maior bancada na Casa, abre mão de prerrogativa quase sagrada, que é a indicação do presidente

Deduzidas as candidaturas destinadas simplesmente a projetar e fortalecer nomes para aspirações futuras, a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados afunila-se em torno dos deputados Aldo Rebelo (PC do B), Michel Temer (PMDB) e José Thomás Nonô (PFL). A votação foi marcada para a próxima quarta-feira, 28 de setembro.

 
O Partido dos Trabalhadores, de Luiz Inácio Lula da Silva, foi forçado pelo presidente da República a abrir mão de nome próprio -- a bancada escolhera Arlindo Chinaglia, de São Paulo. O recuo tem duas implicações simultâneas. Primeiro, o PT coleciona, com a curta candidatura de Chinaglia, outro fiasco político.
 
"O partido nem vai disputar a presidência da Câmara, e com isso abre mão de uma prerrogativa quase sagrada na Casa, até a eleição de Severino", afirma o analista Rogério Schmitt, da consultoria Tendências. A tradição da Câmara dos Deputados é que seu presidente, sempre, seja membro do partido com maior bancada. Como em fevereiro o próprio PT rachou entre duas candidaturas (de Luiz Eduardo Greenhalgh e de Virgílio Guimarães), o eleito acabou sendo Severino, do PP.
 
Segundo, o Planalto revela com sua interferência um pouco mais de senso tático, depois de acumular uma série de derrotas parlamentares por falta de coordenação política. "A retirada de Chinaglia não foi generosidade nem ato de grandeza do PT, mas uma manobra do governo, que percebeu a tempo que o partido caminhava outra vez para a guilhotina", diz Schmitt. "A verdade é que o PT hoje se transformou em objeto de grande rejeição, e reconhecer isso não deixa de ser habilidade."
 
Fiel da balança
Michel Temer, presidente do PMDB, está sofrendo fortes pressões para desistir em favor de Rebelo ou Nonô. "Ele se encontra em uma posição mais ou menos eqüidistante, mas parece que está mais para o lado do Nonô", diz Schmitt. O risco para o governo é que Rebelo, ex-ministro da Coordenação Política, ainda que tenha mais chances do que Chinaglia, não tem condições de assumir uma posição de favoritismo. Até agora, ele obteve o apoio formal do PT e PSB, além de seu próprio partido, o que lhe assegura, em tese, 118 votos. São necessários 257 votos (maioria simples) para ser eleito. Caso nenhum candidato atinja metade mais um dos votos, haverá segundo turno na quarta-feira às 18h.
 
"O deputado Aldo é um grande deputado, mas ele é testemunha de defesa do José Dirceu. Como pode ser juiz? Como pode presidir o julgamento?", diz José Carlos Aleluia, deputado pelo PFL da Bahia.
 
Conselho
"Não sou eu quem vai dar conselho a deputados. Mas eu buscaria à exaustão um nome de consenso", diz o senador Jefferson Peres (PDT do Amazonas). Em sua avaliação, a Câmara dos Deputados precisa considerar que seu prestígio está em baixa e a instituição acaba de sofrer um trauma -- a eleição e renúncia de Severino. "Qualquer presidente que vença no voto só vai trazer danos à Câmara."
 
Com informações da Agência Brasil.