18/10/2004

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Avanço na escolaridade proporciona crescimento do PIB

Cada ano adicional na escolaridade média do trabalhador faz o Produto Interno Bruto de um país crescer de 8 a 10 pontos percentuais. No Brasil, essa relação não existe, pois o ensino não cumpre "um padrão mínimo de qualidade", segundo Gustavo Ioschpe

Um ano a mais na escolaridade média do trabalhador resulta em um avanço do Produto Interno Bruto (PIB) entre 8 e 10 pontos percentuais. Ou melhor, resultaria. No Brasil, a constatação não é comprovada nas estatísticas macroeconômicas do país, conforme mostra "A ignorância custa um mundo", livro de Gustavo Ioschpe, mestre em economia internacional pela Universidade Yale, que será lançado nesta segunda-feira (18/10) às 18h30 na Livraria Cultura, em São Paulo.
 
Segundo os dados analisados por Ioschpe, a escolaridade média dos brasileiros com mais de 25 anos de idade aumentou de 5,1 anos em 2001 para 6,3 em 2003. O avanço, entretanto não se traduziu em crescimento do PIB, como normalmente ocorre nos Tigres Asiáticos. "A educação não age sozinha no crescimento econômico, e receio que os outros determinantes nesse período, especialmente a política monetária, tenham contrabalançado os ganhos educacionais, gerando a performance macroeconômica pífia que conhecemos", diz Ioschpe.
 
O autor aponta a possibilidade de que o impacto da educação sobre o crescimento econômico brasileiro tenha sido diluído pela péssima qualidade de ensino. "Um ano na escola em que você aprende muito pouco ou nada não tem o mesmo impacto do que anos de ensino de boa qualidade. A progressão escolar não é maior porque a qualidade é tão ruim e os índices de repetência tão altos que a partir de um certo ponto a balança dos custos e benefícios de ficar no colégio começa a pender para os custos, e o aluno abandona os estudos." No livro, Ioschpe menciona pesquisa pela qual 35% dos analfabetos do país já passaram pelos bancos escolares. "Que de lá tenham saído sem ler e escrever é um verdadeiro escândalo."
 
Modelo
Na Coréia do Sul - um dos modelos de revolução educacional induzindo crescimento econômico -, a taxa líquida de matrículas no ensino médio pulou de 38% em 1970 para 84% em 1985. Para o autor, o Brasil deveria fixar como meta que dois de cada três jovens de 15 a 17 anos estejam no ensino médio até 2014 (atualmente, a relação é de um em cada três).
 
Além dessa meta, Ioschpe sugere duas medidas polêmicas: o fim do abatimento no imposto de renda (IR) dos gastos com escolas privadas e o fim da gratuidade das universidades públicas para alunos de "alto nível socioeconômico". Nos dois casos, os recursos decorrentes seriam transferidos para um fundo de manutenção e desenvolvimento dos ensinos fundamental e médio, intitulado Fundeb. Enquanto o abatimento do IR custou ao país 6,6 bilhões de reais em 2001, uma estimativa conservadora de potencial de arrecadação com a entrada em vigor da cobrança em universidades públicas de mensalidades dos alunos que podem pagar seria de 3 bilhões de reais ao ano - "verba suficiente para bancar uma série completa do ensino médio para todos os alunos do país", segundo o autor.
 
Pela proposta do mestre em economia, os recursos do Fundeb seriam alocados segundo uma Lei de Responsabilidade Educacional, pela qual prefeitos e governadores receberiam recursos da União proporcionais às melhorias que tivessem alcançado na área, medidas por avanços no Sistema Nacional da Educação Básica (Saeb) e diminuição das taxas de repetência.