21/02/2013

International Higher Education

As universidades japonesas devem alterar seu calendário acadêmico?

Yukiko Shimmi
Yukiko Shimmi é assistente de pesquisa em pós-graduação do Centro para o Ensino Superior Internacional de Boston College. E-mail: yshimmi@gmail.com
Um esforço de internacionalização das universidades muitas vezes entra em conflito com sistemas domésticos, e isto é observado atualmente nas universidades japonesas. Para internacionalizar as universidades do Japão, uma mudança no início do calendário acadêmico, de abril para o outono (setembro ou outubro) foi sugerida pelo painel interno da Universidade de Tóquio em maio de 2012. Esta mudança teria como objetivo alinhar as instituições japonesas com o padrão mundial. Embora tal sugestão ainda esteja em debate, as principais universidades japonesas, o governo do país e também sua indústria começaram a discutir as questões e os obstáculos de sua implementação. A sugestão pode se tornar um potencial símbolo da reforma de internacionalização do sistema de ensino superior japonês, mas ela sublinha conflitos de muitos tipos com os sistemas tradicionais e domésticos. A mudança no início do calendário acadêmico enfrenta dificuldades na Universidade de Tóquio e outras universidades japonesas.
 
Motivos e conceitos
O painel interno da Universidade de Tóquio indicou que a universidade deveria adotar o outono (setembro ou outubro) como início de seu ano acadêmico dentro de cinco anos com o objetivo de acelerar a internacionalização do ensino superior em todo o Japão. De acordo com o relatório, 70% dos países do mundo começam seus calendários acadêmicos em setembro ou outubro (incluindo não apenas os países do Ocidente como também a China, Hong Kong, Malásia, Cingapura e Taiwan), ao passo que a maioria das universidades japonesas inicia seu ano letivo em abril. Algumas universidades japonesas já admitem estudantes no outono, mas este não é o padrão. Portanto, o alinhamento do calendário acadêmico com o padrão mundial ajudará a promover o intercâmbio internacional de estudantes e professores, aumentando também a colaboração de pesquisa no nível universitário. Com o novo calendário acadêmico, os estudantes poderão participar de programas de estudo no exterior com duração de um semestre ou um ano, sem que isto gere conflitos com a programação dos cursos nem cause atrasos na sua conclusão. Professores e pesquisadores enfrentarão menos limites em suas responsabilidades administrativas ou de ensino quando quiserem pesquisar ou lecionar no exterior como professores visitantes.
 
A mudança no início do ano acadêmico também parece aproveitar melhor as férias de verão. O calendário acadêmico atual impede que os estudantes se dediquem plenamente a outras atividades durante o verão – incluindo programas de intercâmbio, posições de voluntariado e estágios, principalmente no caso dos estudantes que pensam em viajar para o exterior. Além disso, tal mudança introduziria uma potencial “pausa semestral” (férias de seis meses) entre a conclusão do ensino médio e o início das aulas na universidade. Para os estudantes, isto traria o benefício da oportunidade de se envolver em atividades que ampliem suas perspectivas e estimulem seu interesse por meio do voluntariado, do estudo no exterior e outros empregos interessantes do seu tempo.
 
Obstáculos e desafios
Apesar dos potenciais méritos de uma mudança no início do ano acadêmico, foram identificados vários desafios para sua adoção de fato. Tais questões parecem ser causadas pelo dilema envolvendo os sistemas nacionais e internacionais. O início do ano acadêmico da maioria das universidades não se encaixa na programação de outras áreas da sociedade japonesa, por exemplo. O calendário acadêmico japonês tradicional, da pré-escola até o nível terciário, começa em abril e termina em março. Além disso, no Japão, o governo e o setor privado iniciam o ano fiscal em abril, e fazem a maioria das contratações de novos funcionários uma vez por ano, em abril. Os exames principais de certificação – como os de servidor público, médico, enfermeira e advogado – partem do princípio de que os candidatos começarão a trabalhar em abril. Muitos japoneses preferem o ciclo atual, sem nenhum intervalo após a formatura no ensino médio e superior e o início da vida profissional. Embora isto não seja relevante para os não-japoneses, o início do ano escolar do jardim da infância até o último ano do ensino médio no período do florescimento anual das cerejeiras é de grande significado cultural para a população do país.
 
Outra preocupação está no fato de uma mudança no calendário acadêmico de apenas parte das universidades levar a uma complicação ainda maior da situação. Diferentemente da Universidade de Tóquio e de algumas outras instituições que buscam a competitividade internacional, a maioria das universidades e faculdades do Japão atende aos estudantes domésticos e, portanto, não tem nenhum incentivo para alterar seu calendário acadêmico. Além disso, as grandes universidades que pensam na adoção da mudança enfrentam pontos de divergência quanto ao método de implantação. A Universidade Waseda, por exemplo, uma das principais dentre as instituições privadas, desenvolveu uma solução única ao introduzir parcialmente um sistema de trimestres para alterar o calendário acadêmico – promovendo assim intercâmbios internacionais e a internacionalização da universidade.
 
Se apenas algumas das universidades mudarem seu calendário acadêmico, seria criada uma situação confusa e problemática para os estudantes, o governo, as empresas e as universidades. Para que os estudantes possam escolher a universidade que começarão a cursar em setembro, seu status entre a conclusão do ensino médio e o início do ensino superior continua pouco claro. O cronograma de contratações das empresas japonesas tradicionais para os recém-formados precisa se tornar mais flexível do que o atual sistema rígido, no qual os novos empregados são contratados somente em abril, acomodando assim diferentes épocas de formatura universitária; caso contrário, alguns estudantes se verão em desvantagem. Entre o governo e as universidades, a diferença entre o início do ano fiscal e do ano acadêmico de certas instituições pode levar a problemas associados a questões orçamentárias e à alocação de recursos.
 
Alternativas e outros procedimentos
O relatório da Universidade de Tóquio, o reitor da universidade e a opinião pública parecem concordar que a internacionalização do ensino superior não pode ser alcançada simplesmente com uma mudança no início do ano acadêmico. Em vez disso, a mudança do ano acadêmico deve ser debatida simultaneamente a outros tipos de reforma. Assim, para promover o estudo no exterior entre os estudantes domésticos japoneses, a universidade poderia enfatizar e aprimorar os sistemas internos de apoio – como a garantia de créditos de transferência para o estudo no exterior, a promoção de transições fáceis por meio da preparação linguística e orientações anteriores e posteriores, oferecendo também oportunidades de bolsas de estudos. Entretanto, para atrair estudantes estrangeiros ao Japão o aprimoramento da qualidade de ensino e a oferta de maneiras de superar a barreira linguística podem ser mais importantes do que mudanças no calendário acadêmico. Por mais que diferenças no calendário acadêmico possam desempenhar um papel simbólico na promoção de reformas universitárias abrangentes, se os demais aspectos não forem abordados, a universidade não conseguirá melhorar sua competitividade internacional. Independentemente da adoção da mudança no calendário acadêmico, a Universidade de Tóquio e outras universidades japonesas, bem como a sociedade do país, devem procurar com seriedade soluções para o problema e planejar de maneira estratégica a direção que o ensino superior do Japão deve seguir no futuro.