20/02/2013

International Higher Education

Cinco modelos de propriedade de campi afiliados no exterior

Jason E. Lane e Kevin Kinser
Lane é professor assistente de gestão educacional e políticas de ensino e diretor de Estudos da Educação no Rockefeller Institute of Government, e codiretor da Equipe de Pesquisa em Educação Transfronteiras da Universidade Estadual de Nova York, em Albany. E-mail: jlane@albany.edu. Kinser é professor assistente de gestão educacional e políticas de ensino, bolsista do diretor para colaborações e iniciativas de internacionalização e codiretor da Equipe de Pesquisa em Educação Transfronteiras da Universidade Estadual de Nova York, em Albany. E-mail: kkinser@albany.edu
A cada edição da IHE um artigo é dedicado à contribuição da Equipe de Pesquisa em Educação Transfronteiras (C-BERT) sediada na Universidade Estadual de Nova York, em Albany. Mais informações sobre a C-BERT podem ser encontradas no endereço www.globalhighered.org.
 
Estabelecer um campus no exterior pode ser um empreendimento caro. Um dos motivos é a despesa associada à construção e manutenção de uma estrutura física em outro país. Na verdade, a menção de um campus afiliado no exterior (IBC, sigla de “International Branch Campus”, no original em inglês) faz com que muitos pensem em pequenas réplicas do campus original, recriadas num deserto ou na selva de outro país. Entretanto, apenas um punhado desses campi é composto por edifícios e instalações que seriam identificados como ambientes de educação superior. Mesmo quando contam com um campus completo, no sentido tradicional, muitos, na verdade, não são donos das instalações que utilizam. Os campi da Universidade de Nottingham na China e na Malásia, por exemplo, têm réplicas da icônica torre do sino localizada no campus britânico; ainda assim, não são realmente donos desses prédios.
 
Nossas muitas visitas aos IBCs revelaram uma gama de tipos diferentes de campi. Embora alguns tenham muitos edifícios, outros têm apenas algumas salas. Alguns usam espaços alugados; outros são propriedade integral do campus original. Há ainda outros que usam espaços oferecidos por parceiros, que no entanto não são alugados nem pertencem ao campus original. Entretanto, as informações a respeito deste tema continuam sendo, em geral, informais e não sistematizadas. Assim, quando foi realizado um levantamento internacional dos IBCs, o regime de propriedade de seus campi foi especificamente questionado.
 
Métodos de pesquisa e definição das IBCs
Realizado no outono de 2011, o levantamento envolveu 180 instituições que se enquadravam na definição de uma entidade que seja, ao menos, parcialmente de propriedade de um provedor estrangeiro de ensino; que operasse em nome do provedor estrangeiro de ensino; que se envolvesse em algumas atividades de ensino presencial; e que oferecesse acesso a programas acadêmicos completos que levassem a uma credencial concedida pelo provedor estrangeiro de ensino. A única referência às instalações está na necessidade de um espaço físico para o ensino presencial. Nesta definição, a menção à propriedade se refere à entidade corporativa, e não corresponde necessariamente à propriedade do campus. Pediu-se a cada participante que descrevesse o regime de propriedade de suas instalações, e as respostas, dadas por escrito, foram subsequentemente analisadas.
 
Informações sobre o regime de propriedade foram oferecidas por 50 campi universitários afiliados no exterior. O resultado revelou cinco tipos básicos de padrões de propriedade: (1) campi de propriedade integral da instituição original, (2) alugados de uma entidade privada, (3) de propriedade do governo local, (4) de propriedade de um parceiro privado ou (5) de propriedade de um parceiro de ensino.
 
Propriedade integral
O mais comum dentre os regimes de propriedade (14 IBCs; 28%) consistia na propriedade integral do campus original sobre as instalações do IBC. Isto foi um pouco surpreendente, pois este é o regime associado a um maior risco financeiro. A construção de um campus físico pode ser bastante cara; e, se algo de errado ocorrer (a redução no número de matrículas, por exemplo, ou uma mudança na regulamentação por parte do governo), pode ser difícil recuperar o investimento feito se as operações do campus forem obrigadas a fechar ou sofrerem alterações. Entretanto, isto proporciona também um nível de estabilidade, decorrente do fato de o campus original não ter que coordenar suas atividades com uma organização separada, em termos do uso e da manutenção das instalações. É também menor a probabilidade de um parceiro tentar usar o fato de ser dono das instalações para influenciar as operações acadêmicas.
 
Parcerias com governos
Depois dos campi de propriedade integral da instituição original, o segundo regime mais citado (11 IBCs; 22%) envolvia o governo local subsidiar o custo e, portanto, ser dono de parte das instalações. Este modelo parece ser mais comum nas situações em que o IBC é visto pelo governo como parte de sua estratégia de crescimento econômico, e consiste numa forma de incentivo para atrair instituições específicas. Dependendo do país, a propriedade pode ser de governos locais ou nacionais. No Catar, o desenvolvimento da Cidade da Educação e a construção das instalações dos campi é administrada pela Fundação Catar, patrocinada pelo governo nacional. Por outro lado, na Austrália, Malásia e Europa há exemplos de governos locais e estaduais investindo nas instalações como forma de atrair instituições estrangeiras – algo que ajudaria a sustentar o crescimento econômico local. Na verdade, foram encontrados pelo menos dois exemplos de governos locais que assumiram o custo da construção de instalações para IBCs depois de o governo nacional ter se recusado a apoiar a construção de uma nova universidade pública em sua região.
 
Investidores privados
Um terceiro regime de propriedade consiste nas situações (10 IBCs; 10%) em que uma instituição acadêmica estrangeira estabelece uma parceria com um parceiro privado local – geralmente uma construtora ou uma firma de investimento – para a construção do campus. Nestes casos, o parceiro privado às vezes recebe uma participação no lucro produzido pelo IBC, ou usam o IBC como forma de “valorizar” outras propriedades suas na mesma região.
 
Aluguel
Nove (18%) das instituições alugam o espaço de seus campi. Duas das instalações alugadas ficam na Europa, mas a maioria delas fica na Vila do Conhecimento de Dubai ou na Cidade Acadêmica Internacional de Dubai, projetadas principalmente como empreendimentos imobiliários destinados ao aluguel por parte de instituições estrangeiras. Neste modelo, múltiplas instituições alugam espaços semelhantes nos mesmos edifícios ou em edifícios próximos, criando uma espécie de “efeito shopping center”, por meio do qual os estudantes se veem diante de muitas opções acadêmicas a escolher. Um dos aspectos mais custosos deste empreendimento está no fato de os campi terem de pagar pela mobília e pelos serviços básicos, além da despesa do aluguel. Em alguns casos, o aluguel parece ser uma fase de transição, pois certas instituições decidem posteriormente construir suas próprias instalações individuais, saindo dos espaços alugados.
 
Parcerias acadêmicas
Por fim, num regime bastante interessante, os IBCs (6 IBCs; 12%) são abrigados dentro das instalações acadêmicas de outro campus. Esta parceria, cujos exemplos foram encontrados na Ásia e no Oriente Médio, não conta como programa de ensino conjunto ou de dupla titulação, pois não existe parceria acadêmica em vigor. Em vez disso, o IBC usa as instalações para oferecer programas acadêmicos independentes. Ele se instala em edifícios de propriedade de outra universidade ou faculdade, mas funciona de maneira separada da instituição que a abriga.
 
Conclusão
Embora o rótulo de “campus afiliado no exterior” possa implicar que a propriedade ou a condição das instalações seja importante no modelo, a maioria das definições operacionais exige apenas que haja uma presença física num país estrangeiro. A pesquisa revelou que, na verdade, os IBCs apresentam muitos tamanhos e formatos diferentes, variando de fachadas alugadas até maravilhas arquitetônicas subsidiadas pelo governo. Estes dados revelam cinco modelos usados pelas universidades ao buscar estabelecer fisicamente um IBC. É importante destacar, no entanto, que o uso destes modelos será limitado com base nas regulamentações locais (ou seja, alguns países não permitem a propriedade estrangeira das instalações), bem como pela capacidade de encontrar um parceiro governamental, privado ou acadêmico que proporcione o espaço desejado. Cada regime traz seu próprio conjunto de oportunidades e obstáculos. Empreendimentos de propriedade integral trazem mais estabilidade e liberdade frente a interferência externa, mas também um maior risco financeiro no caso do volume de matrículas ficar aquém do projetado, ou de um recrudescimento nas relações com o governo local. As relações de parceira reduzem os riscos financeiros, mas podem levar à interferência externa nas questões acadêmicas. Mesmo que os modelos de propriedade das instalações tenham sido identificados, pesquisas adicionais são necessárias para compreender suas implicações operacionais.