22/01/2013

Editorial

Editorial da edição 8, janeiro - março 2013

Hong Kong e Cingapura estão entre os países com os melhores desempenhos no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), mas a capacidade de resolver provas não se reflete em criatividade e pensamento crítico. Na primeira edição de 2013 da Ensino Superior, o jornalista Guilherme Gorgulho explica como os dois "tigres asiáticos" reformaram recentemente seus currículos universitários, implantando cursos de formação geral. A mudança é ousada, mas seus próprios idealizadores nutrem um certo ceticismo, por causa de uma falta generalizada de estímulo das gerações mais jovens para o desenvolvimento intelectual além da pura e simples empregabilidade.
 
A arquiteta Gabriela Celani, assessora da pró-reitoria de graduação da Unicamp, apresenta os principais tópicos debatidos na conferência anual da Society for Research into Higher Education (SRHE), realizada no País de Gales em dezembro do ano passado. Com cerca de 300 participantes, o tom geral foi de alarme: a Universidade virou "provedora de serviços" e o aluno, um mero consumidor. Com a marquetização do ensino superior, dinheiro público é canalizado para pesquisa em áreas de "vantagem competitiva". Enfim, o risco é que as pressões do mercado, da tecnologia e do instrumentalismo distanciem os currículos da produção de conhecimento novo. Além de detalhada reportagem, Celani também entrevistou a organizadora do evento, Helen Perkins, que não podia ser mais clara: "Já temos gente que frequentou cursos muito voltados para o mercado de trabalho, mas que agora não encontra emprego".
 
A Ensino Superior também entrevistou o matemático paranaense Edson Machado, alto funcionário do MEC desde o início dos anos 70 até o início dos anos 2000. Com tanta experiência – e disposição de compartilhá-la com a humildade dos veteranos –, não é à toa que a também veterana Eunice Durham costuma dizer que foi Machado quem lhe abriu as portas do sistema federal de ensino superior. Ele fala sobre o Ciência sem Fronteiras, internacionalização, o período da gestão Paulo Renato Souza e as ocasiões em que debateu temas diretamente com Ernesto Geisel e Fernando Henrique Cardoso.
 
Pedro Pablo Rosso, reitor da Pontifícia Universidade Católica do Chile de 2000 a 2010, Tomás Chuaqui e Lorena Correa relatam, com exclusividade aos leitores da ES, o processo de criação do College UC, o colégio universitário da Católica do Chile. "Para muitos estudantes, a flexibilidade do College consiste num desafio, já que exige deles a tomada de uma série de decisões envolvendo os cursos", explicam os autores. Por isso, todos os programas do College UC oferecem cursos exploratórios, que orientam os estudantes a respeito de suas escolhas. O grande desafio, porém, "foi atrair potenciais usuários para as vantagens de um currículo amplo e flexível e as perspectivas acadêmicas e profissionais que se abririam".
 
A mestranda da Faculdade de Educação da Unicamp Paula Macchione Saes resenha o clássico Changing patterns of the higher education system: the experience of three decades, de Ulrich Teichler. Escrito no final dos anos 1980,  a obra analisa a estrutura de ensino superior em algumas sociedades ocidentais industrializadas a partir dos anos 1950. Apesar da existência de diversos modelos, Teichler documenta como o debate polarizou-se em dois extremos: o modelo diversificado e o modelo único.
 
José Vicente Hallak d’Angelo, Roger Josef Zemp, Maria Teresa Moreira Rodrigues e Sergio Persio Ravagnani, docentes da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, explicam em detalhes a concepção, os ajustes e as dificuldades do processo de implantação do Trabalho de Conclusão de Curso na FEQ, com destaque para os relativos a supervisão e avaliação. Passados quase seis anos da introdução do TCC, os autores sistematizam algumas lições valiosas, entre as quais esta: "Na maioria dos cursos os alunos passam a maior parte do tempo realizando trabalhos que são definidos pelos professores. No momento em que lhes é dada a liberdade de escolher um tema, têm grande dificuldade. É preciso entender esse momento e buscar formas de auxiliar o aluno a entender o processo de escolha do tema e não a escolha do tema em si".

Boa leitura!

PS: Os destaques da edição 8 estão todos online. A partir de 18 de fevereiro, publicaremos a edição brasileira do International Higher Education, a resenha e as notas (formato HTML). Todo conteúdo da revista no formato PDF já está disponível (clique aqui)