21/02/2013

International Higher Education

Estudantes africanos na Índia: padrões de mobilidade

P. J. Lavakare e K. B. Powar
Lavakare é membro do conselho gestor do Instituto de Tecnologia & Universidade Científica Mody, do Rajastão, Índia, e foi diretor executivo da Fundação Americana para o Ensino na Índia. E-mail: lavakare@vsnl.com. Powar é conselheiro do chanceler da Universidade D. Y. Patil, de Pune, Índia, e foi secretário-geral da Associação de Universidades Indianas, em Délhi. E-mail: kbpowar@gmail.com
Na época do poder colonial britânico, o sistema britânico de ensino superior foi introduzido tanto na Índia quanto na África; e este legado sobrevive até hoje, quando a Índia e a maioria dos países africanos são nações independentes. Depois de alcançar sua independência em 1947, a Índia, contando com uma infraestrutura de ensino melhor, começou a atrair estudantes africanos que buscavam o ensino superior em universidades indianas. A procura dos estudantes africanos pela Índia apresentou recentemente um declínio vertiginoso. Isto traz preocupações para a Índia, e faz-se necessário compreender as razões deste declínio, assim como pensar em formas de reverter esta deterioração. Neste artigo, ao analisar a questão, somente os estudantes que de fato cruzam as fronteiras nacionais e vêm morar na Índia são levados em consideração. Os estudantes que estão inscritos nas universidades indianas sob a modalidade de ensino à distância não foram levados em consideração, pois acredita-se que a verdadeira experiência do ensino internacional ocorre somente por meio do ensino transfronteiras.
 
Ascensão e queda
Em 1990/91, um total de 6.222 estudantes africanos vindos de mais de 35 países do continente estavam estudando em quase 100 instituições de ensino na Índia. Na época, havia quase 12.900 estudantes internacionais na Índia. Assim, a população de estudantes africanos compunha quase 48% do total de estudantes internacionais na Índia – mostrando que o país era um dos destinos preferidos pelos estudantes da África. A outra metade da população de estudantes internacionais vinha principalmente da Ásia e do Oriente Médio, enquanto um pequeno número de estudantes procedentes de países desenvolvidos tinha vindo ao país para participar de uma experiência global de prazo muito mais curto. A situação é diferente hoje, com o número de estudantes asiáticos sendo quase quatro vezes maior do que o de estudantes vindos da África; os estudantes vindos de países desenvolvidos continuam a ser uma parcela pequena do total.
 
Com o passar dos anos, o número de estudantes africanos diminuiu constantemente, chegando a cerca de 2.700 em 2009/10. A população de estudantes africanos corresponde atualmente a apenas 15% do total de estudantes internacionais na Índia. Este declínio na proporção é significativo, levando-se em consideração o fato de que, sendo um país membro da comunidade britânica – com um sistema de ensino superior de evolução semelhante ao da maioria dos países africanos – a Índia deveria atrair os estudantes da África de maneira mais significativa; além disso, o custo de estudar e morar na Índia é mais baixo do que em outras partes do mundo. É importante destacar que, na Índia, os estudantes estrangeiros não são vistos como fonte de renda. Diferentemente do caso dos países anglo-saxônicos desenvolvidos, o governo indiano não calcula nem publica estatísticas relativas à renda ou a outras vantagens obtidas com os estudantes internacionais.
 
Iniciativas de ensino à distância
A Universidade Nacional Aberta Indira Gandhi (IGNOU) de Nova Délhi é a maior instituição de ensino superior à distância do mundo. Ela tem planos ambiciosos para oferecer ensino à distância para estudantes da Ásia Ocidental e da África. Esta rede eletrônica pan-africana começou a funcionar em 2008, e a IGNOU assinou memorandos de entendimento com 16 países africanos. O ensino é oferecido por meio de um sistema de teleconferência que proporciona um canal de comunicação de mão dupla entre os estudantes na África e o estúdio montado na IGNOU. Os programas de ensino disponíveis são de graduação e pós-graduação, oferecendo diplomas e certificados. No ano de 2008/09, mais de 2.000 estudantes africanos se inscreveram no programa, e mais de 3.000 o fizeram em 2009/10. Entretanto, informações recentes recebidas da Nigéria indicam que, em 2008/09, dos 49 estudantes aceitos, muitos abandonaram o curso e somente 24 deles concluíram o programa. Aparentemente, o financiamento externo oferecido a este programa foi interrompido, resultando neste abandono.
 
Ainda que útil, o modo do ensino à distância sem o cruzamento de fronteiras nacionais não inclui o verdadeiro espírito do ensino internacional – um dos principais objetivos da oferta de experiências transculturais. Assim, um dos motivos para o declínio na entrada de estudantes africanos na Índia pode ser o relativo sucesso das iniciativas de ensino à distância da IGNOU na África. Entretanto, é preciso avaliar outros motivos possíveis para o declínio. Pode-se destacar que, em 2009/09, do total de estudantes internacionais na Índia, cerca de 27% estavam em programas de ensino à distância. Para os estudantes africanos, a proporção correspondente chegou a 45%. Tais números podem parecer pequenos se comparados aos quase 4 milhões de estudantes registrados na IGNOU. Independentemente disto, o dado levanta a questão do impacto do ensino à distância na internacionalização do ensino superior, para o qual a mobilidade dos estudantes é um fator importante.
 
Outras causas possíveis
As instituições indianas não vêm ocupando posições de destaque nas classificações das 500 melhores universidades mundiais. Portanto, os estudantes internacionais se sentem inseguros quanto à possibilidade de o ensino oferecido pelas instituições indianas os colocar em posição de concorrer por empregos no mercado global. Além disso, com o desenvolvimento econômico da África, a capacidade e a disposição de pagar pelo ensino superior aumentaram; e a opção de estudar em países desenvolvidos ganha preferência, por mais que o ensino e o custo de vida na Índia ainda sejam considerados economicamente acessíveis.
 
O processo de admissão dos estudantes estrangeiros nas universidades indianas consome muito tempo, envolvendo solicitações de visto e verificação de documentos. Isto vem dissuadindo os estudantes que hoje se deparam com uma maior gama de opções de estudo em todo o mundo. A Índia é conhecida como país hospitaleiro, e os visitantes são tratados com honra e respeito. Entretanto, existe a apreensão dos estudantes africanos quanto à dificuldade de serem aceitos na sociedade indiana por causa de sua raça e da cor de sua pele; isto é algo com que a Índia deveria se preocupar.
 
A criação da União Africana e sua nova iniciativa de fundar universidades pan-africanas nos muitos países do continente, valendo-se de parcerias com países de outros continentes, também contribuiu para que os estudantes permanecessem dentro da África e, ainda assim, obter exposição ao ensino internacional como parte de sua educação.
 
A Índia não produziu grandes esforços de marketing para vender seu ensino no exterior. Outros países, tanto os desenvolvidos quanto os em desenvolvimento – como a China – buscaram grandes parcerias e campanhas de marketing que atraíram estudantes africanos, afastando-os da Índia.
 
Novas iniciativas?
Dado o declínio na população de estudantes africanos, o governo indiano precisa bolar uma estratégia para aprimorar e reforçar a parceria de ensino Índia-África por meio de um esforço conjunto do sistema universitário indiano e do sistema de ensino do governo.
 
O fórum político da Cúpula Índia-África, criado anos atrás, precisa incluir “Intercâmbios no Ensino Superior” em sua pauta de extensa colaboração; as universidades de ambos os lados devem participar deste fórum político. O fórum precisa incentivar a colaboração entre as centenas de universidades indianas e africanas por meio do estabelecimento da Rede de Universidades Indo-Africanas. O ensino superior para as mulheres é uma pauta comum para Índia e África; a criação de uma Universidade Feminina Indo-Africana poderia ser uma iniciativa extremamente positiva.
 
As universidades da Índia e da África devem debater e compartilhar experiências relativas à internacionalização do ensino superior – um tema comum à pauta de ambas. A União Africana já organizou três conferências do tipo, e a Índia deveria participar delas. Conferências conjuntas sobre temas de interesse comum no ensino superior deveriam ser organizadas de maneira periódica. Há áreas como o desenvolvimento de habilidades, treinamento vocacional no nível pós-secundário, ensino da medicina, ensino técnico e administrativo e estudos de direito que são especialmente necessárias na Índia e na África. Acordos de colaboração para a criação de instituições em ambos os países deveriam ser explorados por meio de modelos de parceria entre os setores público e privado.
 
A Índia tem mais de 50 corporações atuando na África. Estas deveriam se envolver no apoio aos intercâmbios educacionais, por meio do patrocínio de bolsas de estudo e estágios. Elas podem também ajudar os estudantes africanos matriculados na Índia a obter posições adequadas dentro das estruturas que operam no seu país de origem quando estes voltarem para casa.
 
Conclusão
O declínio na população de estudantes africanos deve ser visto na Índia como motivo de preocupação por causa da tradicional parceria de ensino, que hoje corre risco. É possível que a Índia tenha dado como certa sua relação robusta com a África, enquanto outros países buscam atrair o continente. A Índia precisa atrair estudantes internacionais aos seus campi para expor seus próprios estudantes a outras culturas do mundo. É hora de desenvolver na Índia um grande número de novas iniciativas como parte da formulação de uma nova política de diplomacia no ensino.