01/05/2010

Notícias de Ensino Superior

Todas as notas da edição 1 | maio de 2011

Conferência Paulista de Ciência e Tecnologia – Durante o encontro, que aconteceu nos dias 12 e 13 de abril em são paulo, circulou folheto com destaques sobre o dispêndio em pesquisa e desenvolvimento no estado, que aparecerão na publicação indicadores Fapesp de C&t&i em são Paulo, edição 2010, a ser lançada em julho. Na palestra que abriu a conferência, o diretor científico da Fapesp, carlos henrique de Brito cruz, apresentou parte desses dados. em geral, os números evidenciam participação federal pequena – 13% nos gastos totais em pesquisa no estado. por exemplo:
a) do total do dispêndio em pesquisa e desenvolvimento no estado em 2008, 21% foram feitos pelas instituições de ensino superior estaduais; a maior parte – r$ 2,7 bilhões – veio das três universidades paulistas; r$ 0,4 bilhão das federais e r$ 0,2 bilhão das instituições privadas (gráfico 1);
b) o dispêndio das agências de financiamento à pesquisa no estado foi de r$ 1,5 bilhão, o que corresponde a 9,4% do total;
c) em valores reais, deflacionados pelo iGpdi, para o ano de 2008, o dispêndio do cNpq, de r$ 317 milhões, representa 52% do investido em 1995; o da capes, de r$ 241 milhões, é 91% do valor de 1995; e o da Fapesp (r$ 638 milhões) é 195% maior do que o de 1995; os gastos da Finep, de r$ 638 milhões, também cresceram em 195% (gráfico 2);
d) tomado em geral, sempre para o ano de 2008, o dispêndio do governo federal em p&d em são paulo foi não mais que 3% superior ao realizado em 1995. Já o dispêndio estadual em 2008 foi 47% superior ao de 1995 em valor real, e o empresarial 30% maior em comparação ao de 1995 (gráfico 3). em relação ao dispêndio federal com o ensino superior público, Brito cruz mostrou que são paulo recebe 8% do total investido pelo Mec no Brasil, embora seja o estado com maior população. o diretor científico da Fapesp também calculou qual a probabilidade, em cada estado, de os concluintes do ensino Médio ingressarem em uma universidade federal. o Gráfico 4 mostra o resultado: enquan to um concluinte do Ensino Médio no Acre tem quase 70% de chance de entrar em uma instituição federal de ensino superior, em São Paulo a probabilidade é de 0,7%. Brito Cruz também apresentou os dados, sempre para 2008, das matrículas no estado segundo o tipo de instituição. No ensino superior privado estavam matriculados 1.065.820 alunos; no sistema estadual, 95.956; no sistema federal, 8.111; e em instituições municipais, 60.728. Sobre a pósgraduação, o palestrante notou que o ritmo de formação de doutores no Brasil diminuiu, a partir de 2003, de 16% ao ano para 4% ao ano (Gráfico 5).  

A escola é das meninas – estudo divulgado em março de 2010 pelo centro de políticas para educação analisou dados sobre o desempenho de meninos e meninas no ensino fundamental e médio dos eua, por estados. os resultados mostram que as meninas alcançam notas significativamente melhores que os meninos no estudo da língua inglesa em todos os estados do país. há estados em que a proficiência em leitura dos garotos é 10% menor que a das garotas. Mesmo em matemática, em que os meninos, tradicionalmente, se saem melhor que as meninas, a diferença vem diminuindo quando se trata dos níveis médios de aproveitamento – o número de estados em que as meninas se saem melhor que os meninos é quase o mesmo que o de estados onde ocorre o contrário. o estudo, state test score trends through 200708: are there Differences in achievement Between Boys and girls? (tendências das Notas de teste nos estados em 200708: há diferenças entre Meninos e Meninas?), coletou dados de 2002 a 2008, em todos os 50 estados dos eua, e está disponível na página do centro (www.cepdc.org). o aproveitamento superior das meninas também é o tema do livro Why Boys Fail (por Que os Meninos Fracassam), do jornalista especializado em educação richard Whitmire. Lançado em janeiro, o livro também apresenta dados sobre a tendência. por exemplo: a média das meninas na high school (que corresponde ao ensino Médio no Brasil) é 3,09, contra 2,86 dos meninos; a probabilidade de os garotos repetirem um ano é quase o dobro da das meninas; entre estudantes brancos, 57% das graduações e 62% dos mestrados são obtidos por mulheres; entre estudantes negros, a percentagem é de 66% e 72%; em testes de redação aplicados pelo governo dos eua, 32% das meninas têm aproveitamento “proficiente”, ante 16% dos meninos. Mas – há sempre um mas –, entre os que obtêm as melhores notas, os meninos superam as meninas. em 2009, no exame sat (scholastic aptitude test, ou scholastic assessment test, que em 2005 passou a se chamar sat reasoning test), realizado no fim da high school, 297 estudantes alcançaram o número máximo de pontos possível, 62% deles garotos. Na parte de matemática, 10.052 estudantes acertaram todas as questões – e 69% eram meninos. parte dos dados apresentados foi compilada por Nicholas d. Kristoff, colunista do new York times.  

EUA: humanidades em queda – o jornalista Jeffrey Brainard, da revista the Chronicle of Higher education, se debruçou sobre dados do u.s. department of education, o Ministério da educação dos estados unidos para confirmar ou desmentir a opinião recorrente de que um número menor de estudantes do país tem se graduado em humanidades. ele inicia seu texto, publicado em 28 de fevereiro, com cifras de 1967 a 1987. No período, conta ele, o número de bacharelados em história e língua inglesa caiu para menos da metade. No entanto, afirma, de 1987 a 2008, o número de bacharelados em humanidades cresceu mais depressa que nas outras áreas; no período, em relação ao total de graduações, a parcela de humanidades cresceu de 10% para 12%. depois de informar que a coleta dos dados deixa a desejar, o jornalista apresenta o que pôde concluir: a) parece ter havido, de fato, uma diminuição no interesse dos jovens pelas humanidades de 1967 a 1987, a que corresponde um aumento quase igual do interesse por economia e administração; b) de 1987 em diante, certas áreas dentro das humanidades tiveram crescimento – como cinema e estudos étnicos. o número de graduandos em língua inglesa também cresceu, mas no menor ritmo entre as disciplinas de humanas, e, por isso, continua perdendo na proporção geral de graduações; c) como mostra a tabela, o número de diplomas de graduação concedidos em todas as áreas do o pico de 40 anos atrás; d) a participação conhecimento mais que dobrou desde os anos das ciências sociais e das ciências naturais no 1960; mas se o crescimento das graduações conjunto das graduações se mantém estável em história e línguas estrangeiras continuar, desde o ano de 1967, em 16% e 15% do observa o jornalista, em 2013 terá superado total, respectivamente.  

Interdisciplinar – a próreitoria de Graduação da unicamp pôs em discussão interna um novo programa, que simultaneamente inova na formação de seus estudantes e na maneira pela qual dará ingresso a eles. a proposta preliminar do programa de Formação interdisciplinar superior (proFis) é oferecer a 120 alunos do ensino Médio público do município de campinas dois anos de formação geral de nível universitário, em período integral. o aluno que cumprir o programa assegura seu ingresso no primeiro ano em algum dos 66 cursos de graduação oferecidos pela unicamp. os participantes do proFis vão estudar literatura, computação, desenho, filosofia, matemática, física, música, química, biologia, primeiros socorros, português, história e ética, entre outros temas ainda em detalhamento. também vão participar de seminários profissionalizantes e de programas de iniciação científica e cultural que os ajudarão a escolher a futura área de graduação. o que determinará a prioridade do aluno pelos institutos ou faculdades mais concorridos será o seu desempenho, medido pelo coeficiente de rendimento, já que estarão disponíveis apenas poucas vagas em cada curso de graduação. programas de formação geral, ou “general education”, vêm ganhando importância nas mais importantes universidades do mundo; visam a combater a excessiva especialização e a formar melhores profissionais. as 120 vagas que a unicamp discute oferecer dentro desse programapiloto estarão reservadas aos melhores alunos concluintes do ensino Médio nas escolas públicas federais, estaduais ou municipais do município de campinas. os melhores alunos ou alunas de cada uma das 96 escolas públicas da cidade estarão aptos a participar do programa, mas nenhuma das escolas públicas poderá ter mais que dois alunos no projetopiloto do proFis. do ponto de vista da universidade, o proFis aumentará também a possibilidade de ela recrutar ótimos alunos. estudos internos mostraram que a maioria dos alunos da rede pública se autoexclui do vestibular da unicamp por não acreditar em seu potencial para entrar ou por questões financeiras. No estado de são paulo, 85% dos estudantes que concluem o ensino Médio são de escola pública; no entanto, apenas 30% dos inscritos no vestibular da unicamp cursaram instiuições públicas. pela previsão da prG, até o meio do ano o projeto já deve ter sido amplamente discutido e tramitado pelas comissões da universidade, para ser implantado em 2011. a implantação do proFis, se ocorrer, não diminuirá o número de vagas disputadas no vestibular nem a abrangência do programa de ação afirmativa e inclusão social (paais), que concede bônus a alunos oriundos de escolas públicas. anualmente, ingressam mais de 3 mil alunos nos cursos de graduação da unicamp.

Sisu – diante do crescimento de 63% no número de vagas nas universidades federais nos últimos quatro anos, o novo processo de seleção aplicado por 51 instituições em 2010, considerando as notas do exame Nacional de ensino Médio (enem), terminou no dia 16 de março com 15% das vagas não preenchidas. de acordo com o Ministério da educação, 23 universidades, 26 institutos federais de educação, ciência e tecnologia, mais a universidade estadual do Norte Fluminense (uenf) e a escola Nacional de ciências estatísticas do instituto Brasileiro de Geografia e estatística (iBGe) optaram por aderir ao sistema de seleção unificado (sisu), organizado pelo Mec. pelo sistema, candidatos a vagas no ensino superior público federal indicam instituição e curso de seu interesse pelo site do sisu. o ingresso se dá de acordo com a nota de cada estudante no enem. sempre de acordo com o Mec, dos 2,5 milhões de estudantes que participaram do enem, cerca de 800 mil se inscreveram no sisu em cursos de bacharelado, licenciatura e superiores de tecnologia. No total, 47,9 mil vagas foram oferecidas aos estudantes, e 40,8 mil haviam se matriculado, segundo balanço oficial de 17 de março, que também informou a existência de 136 mil candidatos em lista de espera. segundo o ministério, das cerca de 7 mil vagas não ocupadas no fim do processo, a maioria está reservada para ser preenchida por políticas afirmativas ou será ocupada no segundo semestre. a seleção no sisu ocorreu em três etapas, realizadas entre janeiro e março; o processo chegou à terceira e última etapa com 45% das vagas disponíveis. houve problemas: em outubro de 2009, a prova do enem vazou; no início de dezembro de 2009, o Mec divulgou gabarito errado do exame; em janeiro de 2010, o site não suportou a procura, o que resultou em dificuldade de acesso e impedimento da inscrição; posteriormente o sistema ainda apresentou erros, como mostrar como convocados alunos que não tinham se classificado. Levantamento do site de notícias G1 após a conclusão da terceira etapa do sisu mostrou que 215 das 1.052 vagas da universidade Federal de alfenas (unifal) não foram preenchidas, o que representou 20,4% do total. Na universidade Federal do recôncavo da Bahia (uFrB), 197 vagas, ou 14% do total das 1.380 vagas, também não tinham sido ocupadas. a universidade tecnológica Federal do paraná (utFpr) afirmou que 13,7% dos postos após a última lista do sisu sobraram – das 2.784 vagas, 382 não tiveram alunos matriculados. Levantamento parcial da universidade Federal de são paulo (unifesp) mostrou 10% das 1.570 vagas não preenchidas. a instituição usou o sisu para selecionar alunos para 19 dos seus cursos, os menos disputados. No instituto Federal do sudeste de Minas Gerais, 12,7% das 276 vagas esperam por novas convocações. das 1.822 vagas da universidade Federal do Maranhão (uFMa), 150 não foram preenchidas, o que equivale a 8,2%. Na universidade Federal do aBc (uFaBc), que chegou a ter o curso mais concorrido do sisu, o bacharelado em ciência e tecnologia, 80 vagas, quase 5% do total de 1.700, não foram preenchidas. o sistema de ensino superior federal criou 77 mil novas vagas desde 2006. de acordo com reportagens do jornal o estado de s. Paulo do dia 28 de fevereiro de 2010, as novas federais (foram criadas 15 nos últimos cinco anos) enfrentam dificuldades com recrutamento de professores doutores, prédios ainda não construídos para abrigar laboratórios, equipamentos laboratoriais encaixotados por falta de lugar para instalação, salas lotadas, acesso prejudicado a prédios por problemas nas estruturas de circulação (calçadas e arruamentos), e aulas em lugares improvisados. em 22 de fevereiro, o mesmo jornal afirmou que a uFaBc, uma das mais procuradas pelos alunos que utilizaram o sisu, tem elevada taxa de evasão, de 42%. o problema foi atribuído aos atrasos constantes nas obras de construção do campus. para o Mec, as dificuldades relatadas são normais quando se tem um crescimento acelerado; segundo o ministério, a situação é provisória e vai ser resolvida aos poucos. o Mec planeja contratar mais 1.097 professores em 2010 e outros 1.858 até 2012. a uFaBc respondeu, em comunicado assinado pelo reitor helio Waldman divulgado em 26 de fevereiro pela assessoria de imprensa da instituição, que quase 90% das obras do novo prédio da universidade estavam concluídas. explicou ainda que as licitações de terraplenagem do terreno de construção foram concluídas no segundo semestre de 2009 e as obras estão em andamento, o que é possível observar em uma simples visita ao local. também alegou que o jornal tomou por base, no cálculo da evasão, o número de selecionados, quando o correto seria falar do número de alunos que efetivamente iniciam os cursos, comparecendo à primeira semana de aula. Nesse caso, explica o reitor, a evasão é de 46% após três anos, de 30% após dois anos, e de 17% após um ano. apesar de declinante, o reitor diz que a taxa ainda é elevada e que essa evasão “será combatida com melhorias na infraestrutura, com mais apoio acadêmico e com o aprofundamento das nossas políticas afirmativas”.

Paper do NBER – paul romer, do stanford institute for economic policy research, publicou “Which Parts of globalization Matter for Catch Up growth” (Quais partes da Globalização importam para um crescimento que recupere o atraso) pelo National Bureau of economic research, o escritório Nacional de pesquisa econômica dos estados unidos. o pesquisador propõe articular fluxo de ideias, desigualdade e globalização por meio da seguinte definição: a globalização ocorre por ganhos na reutilização das ideias. Fluxos de ideias são a parte da globalização que importa para a redução da pobreza e para o crescimento até o nível superior de riqueza. como primeira evidência, romer trabalha o efeito sobre a renda per capita total do aumento da expectativa de vida. de acordo com ele, com base na literatura, enquanto a renda medida convencionalmente da metade mais pobre da população do mundo cresceu, entre 1960 e 2000, de us$ 900 para us$ 3.100 ao ano (dólar de 2000), a expectativa de vida cresceu de 41 para 64 anos. o catchingup da expectativa de vida é mais rápido que o da renda convencional. transformado em dinheiro, o crescimento da expectativa de vida resultaria em acréscimo de us$ 1.500 na renda per capita. a melhoria quanto à expectativa de vida depende, para ele, da capacidade do país de importar as ideias – as tecnologias – de saúde relacionadas ao indicador. para o autor, o fluxo de tecnologias depende diretamente das regras praticadas pelos países; por isso, ele afirma que, “para capturar os benefícios potenciais da globalização, precisamos entender melhor as diferenças entre tipos de ideias e como esses tipos interagem com os diferentes sistemas locais de regras”. entender melhor pode levar à percepção de que mais comércio de mercadorias entre países pode indicar que há ineficiência no fluxo de ideias – pois, argumenta, se um país puder fabricar medicamentos para reduzir colesterol e pressão tão bons quanto quaisquer disponíveis em outro país – para ele, sinal de fluxo de ideias (tecnologias) vigoroso, não haverá comércio do medicamento – apenas das ideias que o produziram. como exemplo da forma que interações entre regras e tecnologias podem tomar, romer aponta as companhias chinesas de aviação. segundo ele, nos anos 1990 a china tinha as empresas mais perigosas do mundo. para evitar que suas aeronaves fossem impedidas de pousar em aeroportos norteamericanos, a china importou as regras de tráfego aéreo dos eua e da europa. regras são ideias. com isso, a taxa de acidentes na china, nos anos 2000, caiu para a décima parte do que era. para compreender o sucesso desse caso e o insucesso de outros é que romer se propõe a afinar o instrumental para compreender o fluxo de ideias. para finalizar seu working paper, que foi publicado em fevereiro, ele enfatiza que incentivos importam; e a isso atribui a importância das regras para que a globalização beneficie todos os países: as regras importam, pois “elas mudam os incentivos para os fluxos de tecnologia e a produtividade das tecnologias disponíveis localmente”. regras, observa, não são fáceis de mudar; “inovações em metarregras, as regras para a mudança de regras, seriam particularmente valiosas se fizerem mais fácil para grupos de pessoas a transição do conjunto de regras existentes para outras, melhores, que já provaram funcionar bem alhures”.

Excelência francesa – o professor Luiz davidovich (leia a entrevista nesta edição) não apoiaria, mas a França está desenhando seu programa para desenvolver universidades de classe internacional. a espanha, a alemanha e a união europeia também já fizeram os seus. No dia 26 de janeiro, foi postada na internet a apresentação “l’excellence Universitaire: leçons des expériences internationales” (a excelência universitária: Lições de experiências internacionais), assinada por phillipe aghion. esse professor de economia da universidade harvard recebeu do governo francês a missão de fazer analisar o panorama acadêmico internacional à luz da “problemática da excelência”, com vistas a “fazer emergir, na França, polos de excelência em ensino superior e pesquisa que possam rivalizar com as melhores universidades de nível mundial”. a apresentação é um “relatório de etapa” da Missão aghion, que se constituiu como um grupo de experts internacionais, todos implicados em reformas universitárias anteriores. o estudo dos exemplos estrangeiros, explica a introdução, fez a Missão aprender que “a promoção da excelência não visa somente a fazer progredir alguns estabelecimentos de forte potencial, mas criar um efeito de entranhamento no sistema de ensino superior”, o que discute o argumento de davidovich de que a escolha entre instituições teria efeito deletério sobre as não escolhidas. os 50 slides da apresentação versam sobre: 1. características da excelência; 2. Governança e organização das universidades de excelência; 3. iniciativas governamentais para estimular a excelência.  

Na página 4, encontrase o autorresumo das conclusões. ali se diz que, para o estímulo da excelência e o reforço da competitividade internacional de “seus sistemas universitários”, os governos agem coordenadamente no sentido de reforçar a autonomia dos estabelecimentos; ampliar os meios (mais que só os recursos) de forma significativa; e recorrer a incitações, notadamente a atribuição de fundos de pesquisa”. o segundo ponto do resumo afirma que a excelência universitária “repousa” sobre uma “governança equilibrada” entre legitimidade “executiva e acadêmica”, constituída de um conselho de administração, com maioria de membros externos, que nomeia o presidente e o comitê executivo; e uma instância acadêmica, grande, que aconselha o presidente e aprova contratações e promoções propostas pelos departamentos ou pelas escolas de graduação. se repousa sobre essa estrutura de governança, a excelência tem seu núcleo no “departamento ou escola doutoral, nas diferentes disciplinas, lugar tanto de produção de pesquisa como de ensino de excelência”. Finalmente, o resumo informa as características das iniciativas de excelência da espanha, da alemanha e da união europeia: “focalização forte do financiamento plurianual sobre a excelência para reforçar a competitividade e a atratividade; envolvimento da comunidade científica na direção das iniciativas; e convocação de projetos”. também afirma que as iniciativas são acompanhadas de reformas mais globais sobre governança e financiamento e mobilização do “conjunto do tecido universitário e científico”. vale a pena ler.  

Parou de crescer – o fluxo de financiamento para a ciência britânica não vai crescer até 2013, ao contrário do que aconteceu durante os “noughties” – os “zeros”, para usar a palavra empregada pela imprensa inglesa para designar os anos 2000, que joga com naughty, travesso. o mesmo ocorre com o financiamento gêmeo do ensino superior. a razão é o ajuste fiscal pelo qual deve passar a GrãBretanha após a crise de suas maiores indústrias, a financeira e a da construção civil em 20078. Mesmo que o partido trabalhista seja substituído no poder, haverá o ajuste fiscal e os cortes na área acadêmica. a revista nature publicou na edição de janeiro o gráfico da expansão do financiamento à p&d, que passou do patamar dos £ 3 bilhões no ano fiscal 19981999 para o patamar de £ 5,5 bilhões em 20072008. No texto “Debt Crisis threatens Uk science” (crise da dívida ameaça ciência Britânica) – o título exagera nas tintas e não corresponde ao tom do artigo assinado por Geoff Brumfiel, nem ao editorial “False alarms” (alarmes Falsos), na mesma edição –, a revista informa que o conselho de pesquisa para instalações de ciência e tecnologia, criado em 2007, tem deficit anual de £ 40 milhões e considera se retirar do projeto Gemini, que opera telescópios gêmeos no chile e no havaí. os conselhos de pesquisa são as agências governamentais de financiamento que, anualmente, vêm distribuindo £ 3 bilhões em grants. os cientistas britânicos vêm enfrentando adversidades pelo fato de o governo ter decidido pela implantação do research excellence Framework, sistema de avaliação que será usado para determinar níveis de financiamento. o reF pontua indicadores de impacto da produção científica, o que tem levado parte da comunidade acadêmica a temer pela chamada blueskies research – aquela que, a priori, não se sabe se terá ou não impacto sobre a economia. o governo trabalhista nega pretender desfinanciar a pesquisa básica. a seção educação superior do boletim eletrônico Inovação Unicamp tem acompanhado esse debate – por exemplo, na edição de 22 de fevereiro de 2010. o texto registra que também o Japão já anunciou cortes em 2009, de us$ 33 bilhões, e que o orçamento dos eua para a pesquisa se manterá inalterado para o ano fiscal de 2011. a nature lembra, no editorial, que a comunidade científica deve, publicamente, mostrar que o ensino superior e a pesquisa são das mais fortes indústrias do reino unido, especialmente agora que o setor financeiro encolheu.  

Odile Crick – odile foi mulher de Francis crick e desenhou a elegante hélice dupla que ilustra os papers de 1953 sobre a estrutura espacial do dNa, base de todas as representações posteriores, inclusive as que frequentam a mídia. a informação finaliza o ótimo “Quiet Debut for the Double Helix” (estreia discreta da dupla hélice), que robert olby escreveu para a nature quando do cinquentenário dos papers. olby, historiador da ciência da universidade de pittsburgh, nos eua, quis saber sobre a recepção dos papers; e a recepção, mostrou ele, foi fria. dado o lugar que a descoberta ocupa há já duas ou três décadas na cultura mundial, o resultado surpreende. em comparação ao volume de hoje, a produção científica internacional, na década de 1950, era menor. olby observa, no entanto, que o número de volumes editado pela nature dobrou nos dez anos antes de 1953. ele mostra um gráfico (página ao lado) dos papers da revista que mencionavam dNa e citavam a dupla hélice. em 1957, 22 papers mencionaram dNa; nenhum citou os papers de 1953. em 1960, quase 50 papers falaram em dNa – mas não da dupla hélice, como se vê nas últimas duas colunas. olby afirma que o padrão de citações na science foi semelhante. uma das riquezas do texto está no relato dos tópicos da pesquisa perseguidos na época, em bioquímica e fisicoquímica – síntese das proteínas, mais valiosas que o dNa por terem papel “na nutrição, no crescimento, além de na pesquisa do câncer”; e ação dos “mutagens”, como os cientistas de então (geralmente financiados com recursos para pesquisa em medicina para estudo da doença da radiação) chamavam os possíveis agentes de mudanças nos ácidos nucleicos. olby ressalta o caráter especulativo dos papers de Watson e crick; da hipótese de estrutura os autores derivaram a postulação de que o dNa – e não uma proteína – seria o fundamento da transmissão das características genéticas. como destaca o historiador de pittsburgh, no paper “genetic implications of the structure of Deoxyribonucleic acid” (implicações Genéticas da estrutura do Ácido desoxirribonucleico), Watson e crick escreveram que a “operação essencial” para um material genético seria a capacidade de “exata autoduplicação” – para a qual, reconhece o texto, não havia ainda evidência experimental. custou cinco anos para as evidências aparecerem: em 1958, os pesquisadores Matthew Maselson e Franklin stahl mostraram como a molécula de dNa se replica pela separação das fitas, que servem de base cada uma à produção de uma nova molécula – como previam os papers –; e, ainda no mesmo ano, a comprovação experimental, por arthur Kornberg, de que a síntese de novas moléculas de dNa a partir da original depende de um catalisador, a enzima dNa polimerase. também não havia sido construída ainda a ligação entre os ácidos nucleicos e a síntese de proteínas – que só apareceu em 1961, quando Marshall Nirenberg e heinrich Matthaei conseguiram sintetizar um polipeptídio constituído de apenas um tipo de aminoácido – base para a formação das proteínas – a partir de uma molécula de rNa composta de apenas um tipo de base nitrogenada, o uracil. só depois disso é que crick, com sidney Brenner, mostrou que a ordem dos aminoácidos na cadeia da proteína é dada pela ordem das bases no dNa, tomadas três a três, o mecanismo que os biólogos chamam de código genético. Nas conclusões, o autor se pergunta sobre a razão pela qual a dupla hélice ganhou lugar tão proeminente, diante de tantas descobertas que lhe são contemporâneas; e supõe que a simplicidade da imagem do dNa, tal como representada por odile crick, faz parte da resposta.  

Menos prisão, mais educação – o governador arnold schwarzenegger quer que a califórnia poupe nos gastos com o sistema penitenciário para aumentar o investimento no sistema de ensino superior. em seu discurso sobre o estado do estado, no início de 2010, schwarzenegger propôs que, já no ano fiscal de 20112012, a poupança obtida na administração das prisões comece a reverter para as instituições de ensino superior. a emenda passaria a vigorar plenamente em 2014. para isso, o governador quer a aprovação, no Legislativo, de uma emenda à constituição que proíba ao estado despender, com prisões, mais de 7% de sua receita; e com educação superior, menos de 10%. a emenda passaria a vigorar plenamente em 2014. atualmente, disse o governador, o governo destina 45% mais ao sistema penitenciário que ao universitário. cada preso custa em média us$ 50 mil por ano à califórnia, enquanto em outros estados o valor é de us$ 32 mil. se a medida fosse aplicada este ano, a universidade da califórnia teria recebido mais us$ 1,7 bilhão, calculou donna hemmila, editora do escritório de comunicação da universidade, em texto postado no site da uc. desde 2003 a califórnia gasta mais em prisões que em educação, e a distância entre as curvas vem se acentuando, como se vê na figura. No artigo “em busca de um crescimento inteligente na educação superior: uma visão da estrutura do ensino superior dos estados unidos, passada e futura”, John douglass, docente da uc – Berkeley, escreve sobre o sistema de ensino superior na califórnia nesta primeira edição de Ensino Superior Unicamp.  

Desigualdade no Reino Unido – a probabilidade de um jovem de 18 ou 19 anos residente nas áreas de menor renda da GrãBretanha ingressar na educação superior cresceu 50% nos últimos 15 anos, de acordo com o estudo trends in Young Participation in Higher education: Core Results for en gland (tendências na participação de Jovens no ensino superior: principais resultados para a inglaterra), divulgado pelo higher education Funding council for england (conselho para o Financiamento do ensino superior da inglaterra, hefce, na sigla em inglês) em janeiro de 2010. o estudo reuniu dados sobre a proporção de jovens de 18 ou 19 anos que ingressaram em instituições de ensino superior entre 1994 e 2010 em relação ao total dos jovens nessa faixa etária em cada um dos anos letivos do período. a metodologia do estudo define como “coorte 9495”, por exemplo, os jovens que tinham 18 anos em 1994 que ingressaram no ensino superior no ano letivo 19941995 ou (com 19 anos) no ano letivo 19951996. o resumo executivo do documento destaca, como primeiro resultado, o fato de a proporção de jovens de 18 ou 19 anos nas instituições de ensino superior britânicas ter aumentado em 20% no período estudado: para a coorte 20092010, 36% de todos os jovens britânicos ingressaram no ensino superior, ante 30% para a coorte 19941995. o segundo destaque do documento chama a atenção para a desigualdade que o estudo constatou: “menos de um em cada cinco jovens que residem em áreas menos favorecidas chega à educação superior, comparado com mais de um em cada dois para as áreas mais favorecidas” – as percentagens encontradas foram de 19% e 57%, respectivamente.  

No entanto, nos últimos cinco anos, saúda o documento, subiu em 32% a proporção de jovens das áreas mais pobres que ingressaram na educação superior; se comparada a coorte 19941995 com a coorte 20092010, o aumento equivale a 50%. a participação no ensino superior também aumentou entre os jovens que residem nas áreas mais ricas desde 2005, mas no caso destes o ritmo foi bem mais vagaroso: 4%. o documento também comparou a participação de rapazes e moças no ensino superior; para a coorte 19941995, a participação de homens e mulheres era praticamente igual, de 29% e 30% respectivamente; para a coorte 20092010, a estimativa é de uma participação de 32% para os homens e 40% para as mulheres. os dados correspondem a uma tendência semelhante verificada em outros países do mundo. a diferença é maior entre os jovens que vivem nas áreas mais pobres: nelas, a participação das mulheres, entre 1994 e 2004, aumentou de 13% para 17%, enquanto a dos homens permaneceu estacionada em 12% no período. em números absolutos, a estimativa do estudo é de que 239 mil jovens ingressaram no ensino superior no ano letivo de 2009/2010, um aumento de 47% em relação aos 162 mil registrados em 1994/1995, e superior ao crescimento demográfico da faixa etária, de 21%. também em janeiro, outro estudo sobre desigualdades na sociedade britânica havia sido divulgado: Uma anatomia da Desigualdade no Reino Unido, do National equality panel (comitê Nacional de igualdade, ligado ao governo). de acordo com esse documento, a renda dos 10% mais ricos da população britânica é cem vezes superior à dos 10% mais pobres. o estudo registra que apenas 4% dos adolescentes de 15 anos que receberam auxílioalimentação do governo se matricularam no ensino superior. entre as crianças que não precisaram do benefício, 33% conseguiram entrar em uma universidade o documento, em inglês, está disponível em http://www.hefce.ac.uk.  

Cotas no STF – duas ações relacionadas à utilização de cotas raciais como critério para ingresso no ensino superior tramitam no supremo tribunal Federal: uma arguição de descumprimento de preceito Fundamental (adpF 186), de autoria do democratas (deM), contra as cotas da universidade de Brasília (unB); e um recurso extraordinário (re 597.285), apresentado pelo estudante Giovane pasqualito Fialho, que se sentiu prejudicado pelo sistema de reserva de vagas da universidade Federal do rio Grande do sul (uFrGs). o ministro ricardo Lewandowski relata ambas as ações e convocou a audiência pública sobre políticas de ação afirmativa de reserva de vagas no ensino superior, que ocorreu entre 3 e 5 de março. essa foi a quinta audiência pública realizada pelo supremo. Na primeira delas, realizada em abril de 2007, o assunto colocado em discussão foi a pesquisa com célulastronco embrionárias. Na adpF 186, o deM alega que o sistema de cotas raciais da unB, pelo qual a universidade reserva 20% de suas vagas para estudantes negros ou pardos, selecionados por uma comissão após entrevista dos candidatos, ofende oito artigos da constituição: artigo 1º, caput (princípio republicano) e inciso iii (dignidade da pessoa humana); artigo 3º, inciso iv (veda o preconceito de cor e a discriminação); artigo 4º, inciso viii (repúdio ao racismo); artigo 5º, incisos i (igualdade), ii (legalidade), xxxiii (direito à informação dos órgãos públicos), xLii (vedação ao racismo) e Liv (devido processo legal); artigo 37, caput (princípios da legalidade, da impessoalidade, da razoabilidade, da publicidade e da moralidade); artigo 205 (direito universal à educação); artigo 206, caput e inciso i (igualdade nas condições de acesso ao ensino); artigo 207 (autonomia universitária); e artigo 208, inciso v (princípio do acesso aos níveis mais elevados do ensino segundo a capacidade de cada um). Na petição inicial, o democratas denomina a comissão de seleção da unB de “‘tribunal racial’, composto por pessoas não identificadas e por meio do qual os direitos dos indivíduos ficariam, sorrateiramente, à mercê da discricionariedade dos componentes”. Já no re 597.285, o stF foi chamado a decidir sobre a constitucionalidade da reserva de vagas na uFrGs. o sistema gaúcho destina 30% das vagas para candidatos que cursaram ao menos metade do ensino Fundamental e todo o ensino Médio em escolas públicas; delas, 50% só podem ser preenchidas por estudantes que se autodeclararem negros. em 2008, o impetrante Giovane Fialho não alcançou colocação suficiente para o curso de administração, apesar de ter obtido pontuação maior que a de candidatos que preencheram as vagas reservadas. por isso, sustenta que o sistema fere o disposto pela constituição nos artigos 5º, caput (inviolabilidade do direito à igualdade); artigo 22, inciso xxiv (competência da união para legislar sobre a educação); artigo 206, inciso i (igualdade nas condições de acesso ao ensino); e artigo 208, inciso v (princípio do acesso aos níveis mais elevados do ensino segundo a capacidade de cada um). os primeiros a se apresentar na audiência foram os representantes do governo. a viceprocuradorageral da república, débora Macedo duprat, abriu a audiência. para ela, a política de cotas não cria “diferenças” ou “castas”, mas “traz para o espaço público essa multiplicidade da vida social”. defendeu o autorreconhecimento como critério para a utilização de vagas reservadas, pois, a seu ver, quem se declara negro arca com “consequências posteriores”, no mercado de trabalho, por exemplo. “o estelionato não é tão fácil”, completou. também no primeiro dia de audiência falou Maria paula dallari Bucci, secretária de ensino superior do Mec. defendeu o uso de cotas raciais como uma maneira de diminuir a distância entre os níveis de escolaridade de brancos e negros. segundo disse, a média de escolaridade dos negros, aos 25 anos de idade, é dois anos menor que a dos brancos – diferença que não diminui desde os anos 1980. para ela, o dado “esvazia um pouco a tese de que, para a inclusão dos negros, o ideal seria melhorar o ensino como um todo”. a secretária também afirmou que levantamento do Mec realizado em 2009 com 51 universidades federais e estaduais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia mostrou 49% das instituições com alguma ação afirmativa com caráter étnico ou racial. edson santos, ministro da secretaria especial de políticas de promoção de igualdade racial (seppir), também falou pelo governo. para justificar sua posição prócotas, citou dado da pesquisa Nacional por amostragem de domicílio (pNad) de 2008 que mostra 50,6% da população se declarando preta ou parda. de acordo com ele, cota não é “panaceia”, não é “solução definitiva para o problema da redução da desigualdade”, e sim uma forma de dar “perspectiva de futuro” a parcela expressiva de “jovens negros que sonham com a universidade”. segundo o ministro, cerca de 60 instituições de ensino superior adotam o sistema de cotas no Brasil. outros órgãos do governo federal a se apresentar foram a advocacia Geral da união (aGu), a secretaria especial de direitos humanos (sedh), a Fundação Nacional do índio (Funai), o instituto de pesquisa econômica aplicada (ipea) e a Fundação cultural palmares. do lado das universidades, no dia 5 de março, alan Kardec Martins Barbiero, que é presidente da associação Nacional dos dirigentes das instituições Federais de ensino superior (andifes) e reitor da universidade Federal de tocantins, defendeu não a adoção de cotas, mas a autonomia das instituições de ensino superior na adoção de ações afirmativas. No mesmo dia, pela unicamp, falou renato hyuda de Luna pedrosa, coordenador da comissão de vestibulares (comvest) e professor do instituto de Matemática, estatística e computação científica (imecc). pedrosa explicou como funciona o programa de ação afirmativa e inclusão social que a unicamp implantou em 2005 e do qual foi um dos autores. o paais concede um bônus de 30 pontos na nota final do vestibular de candidatos que cursaram todo o ensino Médio em escolas municipais, estaduais ou federais e mais 10 pontos para esses alunos oriundos da rede pública que se declararem pretos, pardos ou indígenas. representantes das universidades federais de Juiz de Fora (uFJF), santa Maria (uFsM), santa catarina (uFsc), da universidade do estado do amazonas (uea) e do instituto universitário de pesquisas do rio de Janeiro (iuperj) falaram pelo lado acadêmico. outras entidades que participaram da audiência foram a ordem dos advogados do Brasil (oaB), a educação e cidadania de afrodescendentes e carentes (educafro) e o centro de estudos africanos da universidade de são paulo, entre outros. No dia 9 de março, pedrosa falou sobre a audiência a Ensino Superior Unicamp: “os ministros do stF parecem muito preocupados com a comissão da unB, que gera muito questionamento legal, muita sensação de injustiça – como pessoas de uma mesma família em que um é aceito e outro não”, disse. “eles se preocupam com o questionamento legal, com o número de ações, com a possibilidade de complicações para o sistema jurídico, [com a possibilidade de serem] chamados a se manifestar eternamente contra ou a favor de certas situações.” para ele, o stF deverá estabelecer um marco legal para diminuir o conflito jurídico. o ministro Lewandowski espera que o supremo decida até o fim de 2010 se os sistemas de reserva de vagas da unB e da uFrGs estão ou não em conflito com a constituição. ele ponderou, no entanto, que poderá haver atraso pelo fato de ter sido escolhido, em março, presidente do tribunal superior eleitoral (tse), neste ano de eleições.  

Centro de Estudos Avançados – instituir um espaço para o estudo de grandes temas com uma abordagem interdisciplinar, reunindo especialistas brasileiros e estrangeiros, é a proposta do centro de estudos avançados (ceav), criado pela unicamp no início de março. os debates serão promovidos em grupos de trabalho com duração estimada em até dois anos e resultarão em publicações, cujos moldes ainda estão sendo discutidos. sob a coordenação do historiador pedro paulo abreu Funari, professor titular do instituto de Filosofia e ciências humanas (iFch) da unicamp, o ceav começa suas atividades com dois núcleos, o de ensino superior e o de estudos avançados em esporte. os grupos em atividade simultânea deverão ser três. a princípio, o centro ocupará um espaço no Nepp (Núcleo de estudos de políticas públicas); a partir do segundo semestre de 2010, estará na sede definitiva, no terceiro andar do prédio da Biblioteca central da unicamp o Ceav pretende receber pesquisadores estrangeiros, que permanecerão algumas semanas na unicamp. a primeira a vir foi a professora Liz reisberg, pesquisadora associada ao centro universitário de Boston para educação superior internacional. especialista em ensino superior, ela ficou no Nepp de 8 a 30 de abril e ministrou o curso Garantia de Qualidade: processos de trabalho e eficiência no ensino superior nos dias 12, 14 e 15 de abril. No dia 20 de abril, proferiu a palestra ação afirmativa, abordando as políticas de inclusão no ensino superior. segundo o coordenador do ceav, a professora norteamericana deverá voltar à unicamp para um novo período de mais um mês no segundo semestre. coordenado pelo professor renato hyuda de Luna pedrosa – da comissão de vestibulares (comvest) e do instituto de Matemática, estatística e computação científica (imecc) –, o Grupo de estudos em ensino superior trará, em novembro, o professor John douglass, da universidade da califórnia – Berkeley, autor do artigo “em busca de um crescimento inteligente na educação superior: uma visão da estrutura do ensino superior dos estados unidos, passada e futura”, desta edição de Ensino Superior Unicamp. Já o Grupo de estudos avançados em esporte, sob a coordenação do professor paulo cesar Montagner – diretor da Faculdade de educação Física (FeF) –, discutirá de maneira interdisciplinar a relevância da prática esportiva no mundo contemporâneo, do papel da atividade física na inclusão social até os reflexos de estratégias de governo no esporte de competição. “também há uma ênfase na questão das olimpíadas, em contato com o comitê olímpico internacional e o comitê olímpico Brasileiro, e em como isso está relacionado com a universidade. há uma reflexão tanto internacional como brasileira sobre a questão do esporte olímpico como tema acadêmico, como tema de reflexão científica”, explicou o professor Funari em entrevista no dia 25 de março.  

No segundo semestre, o grupo recebe o sociólogo britânico eric dunning, professor emérito da universidade de Leicester. vinculado ao Gabinete do reitor, o ceav e seu conselho pro tempore deverão definir em breve quais outros temas relevantes serão estudados. além do professor Funari, integram o conselho temporário euclides de Mesquita Neto, próreitor de pósGraduação; Leandro russovski tessler, coordenador de relações institucionais e internacionais; Marcelo Knobel, próreitor de Graduação; ricardo de oliveira anido, chefe de Gabinete adjunto da reitoria; ronaldo aloise pilli, próreitor de pesquisa; paulo eduardo rodrigues da silva, próreitor de desenvolvimento universitário; e Mohamed habib, próreitor de extensão e assuntos comunitários.

Rankings

Melhores–as críticas às metodologias utilizadas para elaborar classificações internacionais de universidades e seu crescente impacto sobre a vida acadêmica estão levando ao desenvolvimento de novos rankings, que pretendem corrigir equívocos apontados nos já existentes – dos quais os mais famosos são os produzidos pela universidade chinesa Jiao tong desde 2003 e pela revista times Higher education, este editado de 2004 até 2009 em parceria com a consultoria Qs, ambas britânicas. essas críticas (veja o artigo de ellen Hazelkorn na página 43) apontam, entre outras questões, a necessidade de metodologias mais sensíveis e abrangentes que sejam capazes de incluir, por exemplo, características mais intangíveis, como a qualidade do ensino ministrado. desde o final de 2009, notou a revista nature em sua edição de 3 de março de 2010, novas organizações surgiram com o objetivo de aprimorar as listas de universidades, e que prometem refletir com mais acuidade as qualidades de cada instituição. em fevereiro de 2010, a ocde (organização para a cooperação e o desenvolvimento econômico) lançou o piloto do projeto aheLo – assessment of higher education Learning outcomes, ou avaliação de resultados do aprendizado na educação superior –, ao qual destinou us$ 12,5 milhões. o objetivo do projeto, de acordo com a página do aheLo na internet, é “permitir a comparação entre instituições de ensino superior de diferentes países”. o aheLo, enfatiza a ocde, não é um ranking; a intenção é desenvolver métricas para avaliar a qualidade do ensino e da aprendizagem. entre as ambições do projeto está a de criar formas de medir a habilidade dos estudantes de pensar criticamente e ter novas ideias. em outubro de 2009, foi criado o observatório de Rankings acadêmicos e excelência, com sede em varsóvia, na polônia. a organização consolida o international ranking expert Group (ireg na sigla em inglês), que realiza encontros anuais desde 2002. de acordo com o site do ireg na internet, o objetivo da “nova organização global” é a melhoria da qualidade dos rankings internacionais e nacionais de instituições de ensino superior. Faz parte do comitê executivo Nian cai Liu, um dos criadores do ranking da universidade Jiao tong. o observatório declara adesão aos princípios de Berlim, estabelecidos em 2006. o documento de Berlim também é citado como orientador de outra organização, ligada à comissão europeia, cujo objetivo é criar uma base de dados global de universidades. a base de dados vai se chamar Multidimensional Global ranking of universities, uMultirank; e o piloto do projeto, que pretende agregar dados de 150 universidades, será lançado ainda em 2010. o ponto de partida do uMultirank é que “os rankings devem incluir e comparar programas e instituições similares e comparáveis em termos de suas missões e perfis”. Quem organiza a base de dados é um grupo de sete instituições europeias: o centro para o desenvolvimento da educação superior, alemão; três centros de pesquisas sobre ensino superior – um holandês, financiado principalmente pelo governo, e dois belgas, ligados às universidades de Leiden e de Leuven –; o observatório de ciências e técnicas, grupo francês especializado em indicadores de ciência e tecnologia; uma entidade europeia especializada em gestão, sediada em Bruxelas; e a Federação europeia de associações Nacionais de engenharia. Finalmente, o novo parceiro da tHe em seu ranking, a thomson reuters, criou o Global institutional profiles project, que pretende aperfeiçoar a avaliação reputacional das instituições – característica do ranking da revista inglesa – por meio do aumento do número de avaliadores (de 4 mil para 25 mil). além disso, a nova base de dados, segundo informação oficial da empresa, conterá dados sobre resultados acadêmicos, níveis de financiamento e características de docentes.