24/04/2014

Ambientalismo eleitoral

Santo do Pau-Oco, o santo ambientalista

Fernando Nogueira da Costa
Economista, professor da Unicamp*
Convivo há muitos anos com meus colegas professores universitários, tempo suficiente para saber como podem ser agressivos com suas palavras, não medindo consequências em atingir a honra alheia, desde que alguém contrarie sua ideologia e/ou plano pessoal na política. Pior, escrevem pseudociência quando estão fazendo apenas panfletagem em seus artigos. Para conferir, basta ler os colunistas de linha ideológica liberal que têm espaço permanente para dar sua “Opinião” nas páginas do jornal Valor, isto sem considerar outros jornais e revistas que não leio. Eles escrevem barbaridades e não recebem nenhum contraponto de colunistas de ideologia distinta!
 
Seria mais honesto, intelectualmente falando, Veiga discorrer sobre as diferenças entre as estratégias social-desenvolvimentista (pela qual a Dilma foi eleita) e a pentecostal-ambientalista (pela qual a Marina foi derrotada). Em ano eleitoral, quando tomam partido a favor de determinado candidato — e não revelam ao leitor –, fazem apenas campanha negativista contra o governo. No caso atual, a “bola-da-vez” é o Governo da Dilma. Acentuam apenas o que consideram “um absurdo” e omitem quaisquer aspectos positivos. Quem dar fé a esses panfletos camuflados de artigos, corre o risco de tomar decisões políticas e econômicas equivocadas, pois não estará enxergando todos os aspectos da realidade.
 
Veja o tom desrespeitoso adotado por José Eli da Veiga, professor sênior do Instituto de Energia e Ambiente da USP. Ele não anuncia que apoia os planos pessoais da dupla Marina-Campos. Eles ainda não anunciaram até agora sequer uma diretriz concreta de governo, exceto  bandeira neoliberal: Banco Central independente. Isto durante uma crise mundial provocada por “desregulação” / omissão equivocada de Banco Central!
 
O professor poderia apresentar um programa mais profundo, dizendo o que seu candidato faria, caso eleito, além do que já está sendo feito em política social, em vez de emprestar sua reputação para panfletar contra a Dilma. Assim, talvez se candidate a se tornar o Ministro do Meio Ambiente, cargo certamente almejado por muitos da “Rede”. Óbvio, isso acontecerá apenas caso essa oposição consiga enganar a maioria dos eleitores.
 
Ele intitula seu panfleto (Valor, 25/03/14) de “A pior traição de Dilma”! Que desrespeito tratá-la como “traidora”! Não só pelo respeito cívico devido à Presidência da República, como também pela história pessoal da ex-combatente na luta pela conquista da democracia no País na época da ditadura! Compara isso a sua carreira acadêmica? Seria mais honesto, intelectualmente falando, Veiga discorrer sobre as diferenças entre as estratégias social-desenvolvimentista (pela qual a Dilma foi eleita) e a pentecostal-ambientalista (pela qual a Marina foi derrotada). Traição seria caso a Dilma adotasse a causa de sua adversária!
 
Veiga inicia nesse tom: “As barbeiragens de Dilma na presidência do Conselho da Petrobras são 'fichinhas' se comparadas às cometidas na Presidência da República.”
 
Sabe a razão simplória de tão grave acusação? Porque “o Brasil contrariou as históricas decisões do G-20 em Pittsburgh (2009) e Los Cabos (2012), entrando no clube das nações já 'viciadas' em subsidiar o uso de energias fósseis. Ao discriminar contra as energias renováveis em favor das fósseis, o governo Dilma alavancou as emissões de gases de efeito estufa, aumentando brutalmente a carbonização da economia brasileira (sua “intensidade-carbono”), na contramão do desenvolvimento sustentável.”
 
Ele não tem consciência do mal que comete contra sua reputação e contra os outros, portanto, é leviano com sua “consciência ecológica”. Não tem a menor dimensão da oportunidade histórica de o País obter um Fundo Social de Riqueza Soberana com a futura exportação do petróleo extraído de águas profundas. Poderá dar um salto inédito na qualidade de vida do seu povo, investindo na melhoria da qualidade da Educação e da Saúde Pública.
 
Ao invés de “parar para pensar”, e relativizar os conflitos entre opiniões ambientalistas e desenvolvimentistas, ele parte para agressiva campanha de difamação — e até ameaça! “Em tão privilegiadas condições naturais, como são as brasileiras, esse retrocesso é crime de lesa-humanidade, mesmo que ainda não esteja assim tipificado no Estatuto de Roma, ou em sentenças de tribunais penais internacionais.”
 
Acusa, de maneira irresponsável, um futuro que existe apenas na sua cabeça! Como fosse vidente, afirma: “os R$ 63 bilhões emprestados aos consumidores e contribuintes para só serem cobrados após o estelionato eleitoral de 2014, e mais os atuais riscos de racionamento de eletricidade e de blackouts que poderão advir do prolongado uso sem manutenção das térmicas.”
 
Não deixa de fazer demagogia para “o povo” (uns poucos jovens desmiolados que se deixaram liderar por violentos assassinos black blocks) das manifestações de ruas. “Tudo umbilicalmente ligado ao estímulo às montadoras para que deixem de inovar na direção de combustíveis mais limpos e ao aumento dos deslocamentos individuais em vez dos coletivos, o que só agrava a falta de mobilidade em aglomerações metropolitanas. Gênese, aliás, das manifestações de junho de 2013.”
 
Depois de criticar “a orientação dilmista”  que teria levado “à tão estapafúrdia liquidação de energia fóssil, enquanto a cultura da sustentabilidade recomenda o inverso”, isto é, a pseudocultura dele, tipo “menino-agora-contrariado-porque-sua-mamãe-jamais-o-contrariou”, afirma que “Dilma enfiou mais uma bagatela de R$ 18,5 bilhões nesse delirante saco sem fundo”. Diz, levianamente, que “há política dilmista anti-etanol”!
 
Sua “moral da história” é que “com planejamento energético minimamente democrático o Brasil certamente teria cumprido o citado compromisso de 2010, em vez do avesso legado pelo governo Dilma”. Veiga desrespeita justamente a regra do jogo democrático ao desrespeitar a Presidenta eleita que está executando o programa eleito a favor do povo. Por que, ao invés de panfletar, ele não anuncia qual seria este “planejamento energético minimamente democrático”, caso a dupla Campos-Marina fosse eleita, e ele alcançasse o almejado cargo de Ministro do Meio Ambiente, superando todos os outros concorrentes?
 
Talvez porque ele não tenha a desfaçatez de anunciar:
 
“liberação dos preços dos combustíveis fósseis”: choque inflacionário corroerá o poder aquisitivo dos brasileiros.
 
“ciclovias contra automóveis”: não atenderá à necessidade de mobilidade urbana (e territorial) de uma população cada vez mais envelhecida.
 
“investimentos em energia solar e eólica”: serão totalmente insuficientes para atender um país com 8,5 milhões de Km2 e 201 milhões de habitantes.
 
“aborto das obras da Usina Hidroelétrica Belo Monte na Amazônia (matriz energética limpa) por causa de reservas indígenas a quilometros de distância”: resultará em futuros apagões e uso de poluentes usinas termoelétricas.
 
“aborto dos investimentos no pré-sal”:  jogará fora oportunidade histórica do País se livrar do subdesenvolvimento.
 
Amadureça e deixe de ser verde!
 
* Graduação em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1974), mestrado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (1975), doutorado em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (1985), Livre Docente pelo Instituto de Economia da Unicamp (1994). Professor da Unicamp desde 1985. Experiência profissional na área de Macroeconomia, com ênfase em Teoria Monetária e Financeira, pesquisando principalmente nos seguintes temas: Sistema Financeiro, Bancos, Teoria e Política Monetária, Inflação, Finanças Comportamentais.