29/10/2004

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Combate à inflação afeta crescimento só no curto prazo, diz Meirelles

Presidente do Banco Central afirma que, se há dilema entre controle de inflação e crescimento, ele é de "muito curto prazo"

Uma política monetária comprometida com metas de inflação, queda da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e solvência internacional prevalece no balanço de riscos entre crescimento e estagnação. Em outras palavras, ainda que não seja suficiente para o crescimento a taxas maiores, a estabilidade é condição necessária para qualquer avanço da economia. Durante seminário nesta sexta-feira (29/10) em São Paulo, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central (BC), invocou o histórico de inflação e crescimento de algumas economias para demonstrar que a primeira é necessariamente adversária do segundo. De 1990 a 2003, o Chile, por exemplo, cresceu à taxa média anual de 5,4%, enquanto sua inflação média por ano foi de 9,1%. No mesmo período, o Brasil teve crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,8% e uma inflação média por ano de 161,3%.

 
"Não há dilema entre controle da inflação e crescimento. Se existe, é de muito curto prazo. A desinflação pode trazer um custo momentâneo de produto", diz Meirelles. Ele mencionou conversa com executivos de grandes empresas que vêm sofrendo dificuldades pela falta de investimento de seus fornecedores. "Muitos empresários apontam o legado histórico brasileiro de arrancadas e freadas da economia como a causa da hesitação nos investimentos. Só nos cabe oferecer confiança e previsibilidade." Meirelles declarou concordar que outras políticas são necessárias para ampliar a oferta e evitar uma sobrecarga sobre a política monetária. "Devemos continuar as reformas em outras áreas, não há discordância nisso. O potencial de crescimento depende de investimentos e das microrreformas que estamos fazendo."
 
Para Demósthenes de Pinho Neto, ex-diretor do BC e vice-presidente do Unibanco, o problema do Brasil não é o crescimento do PIB, mas o avanço do PIB potencial. "É importante respeitar o PIB potencial, e é isso que a política monetária está fazendo", afirma. Pinho Neto mencionou estudo que aponta a necessidade de uma taxa de formação bruta de capital fixo de 18,5% do PIB para que a economia possa crescer 5% ao ano. Para Joaquim Cirne de Toledo, economista da Universidade de São Paulo, o problema é que a taxa de investimento está tão baixa quanto nos anos 90. "A taxa tendencial de crescimento da economia brasileira é de 2,5% ao ano, com esse nível de investimento ainda abaixo dos 20% do PIB", diz Toledo. Para ele, uma política econômica que permite alta de juros e depois oferece desoneração tributária para bens de capital é "esquizofrênica".