28/06/2005

exame.com

"Contaminação" da política na economia é difícil, dizem empresários

Para Eduardo José Bernini, presidente da AES Eletropaulo, o Brasil está ingressando em 'fase italiana' de sua história, em que a economia segue uma trilha de certo modo separada da política

O Brasil está vacinado contra a transfusão de problemas políticos, por mais sérios que sejam, para o campo econômico. Esta é a opinião de empresários ouvidos por EXAME pouco antes da cerimônia de premiação das MELHORES E MAIORES empresas de 2005.

 
Para Eduardo José Bernini, diretor-presidente da AES Eletropaulo, o Brasil está ingressando em uma "fase italiana" de sua história, em que a economia segue uma trilha de certo modo separada da política. "Em um setor regulado como o de energia, a maior preocupação é, por exemplo, a racionalidade dos próximos leilões", afirma Bernini. "Não será o quadro político que vai determinar as decisões de investimento para 2007, 2008 e 2009, mas os resultados desses leilões."
 
O executivo também destaca a falta de flexibilidade do setor. "Não conseguimos decidir investimentos de uma hora para a outra. Há uma inércia nas decisões, tanto de investir quanto de cancelar projetos."
 
Horacio Lafer Piva, ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e membro do conselho de administração das Indústrias Klabin, acredita que o crescimento econômico de 2005 já está dado. Mais importante do que política é a taxa de juros e câmbio, afirma Piva. "O que precisamos ver é como será 2006. Com a queda dos juros que deverá ocorrer nos próximos meses, haverá um efeito positivo para a economia que vai compensar os danos causados pela política. A decisão de investimento de alguns setores está sendo afetada pela taxa de câmbio, como no caso dos setores calçadista e têxtil."
 
"Ainda temos de esperar um pouco", diz Ricardo Pernambuco Backheuser, diretor presidente da Carioca Cristiani-Nielsen Engenharia. "Na situação atual, não vejo qualquer reflexo. Mas imagino que, se prosseguir esse clima, seguramente afetar", diz o executivo, ressaltando que, no caso do setor de obras públicas, já há uma implicação dos distúrbios em Brasília: maior lentidão da máquina de governo. "Sempre que há crises políticas sérias, a máquina de governo fica ainda mais lenta. Isso é uma pena, porque 2004 foi um ano muito bom. Seria excelente se 2005 seguisse o mesmo padrão."
 
Maurizio Billi, diretor superintendente da Eurofarma Laboratórios, afirma que os planos de sua empresa estão mantidos. "As bases econômicas são muito sólidas, e uma eventual ventania política não abala. Não sentimos nenhum reflexo da crise nos negócios."
 
"A crise política ainda não afetou nossos negócios", diz Constantino de Oliveira Júnior, presidente da Gol Linhas Aéreas. "Tanto que mantemos a previsão de crescer 12% neste ano, quatro vezes a evolução estimada para o PIB."
 
Governabilidade
Na avaliação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mais perigosa do que a crise política doméstica é a eventualidade de desequilíbrios na economia mundial. "A economia brasileira tem fundamentos firmes e sólidos, e uma crise política dificilmente contaminaria a economia. O Brasil está vacinado contra esse tipo de contaminação. O que pode contaminar são problemas internacionais, sistêmicos, como desequilíbrios criados pela economia chinesa, por exemplo." "Meu partido sempre teve responsabilidade de apoiar com sinceridade a governabilidade, sem pedir nada em troca", diz Perillo.