13/02/2019

Notas de leitura

Karl Marx e o nascimento da sociedade moderna, de Michael Heinrich

HEINRICH, Michael. Karl Marx e o nascimento da sociedade moderna – Biografia e desenvolvimento de sua obra. São Paulo: Boitempo, 2018

 

‘ESCOLA SEM PARTIDO’ NA PRÚSSIA DO SÉCULO XIX

O período reacionário que se iniciou após os decretos de Karlsbad de 1819 [no Estado prussiano] gerou mudanças significativas para o ginásio. O impulso formador neo-humanista foi cerceado, e o aperfeiçoamento do ser humano foi privado de sua culminação política – ficou cada vez mais restrito à interioridade e tendeu para o puro esteticismo. [...] No decorrer do século XIX, o ginásio humanista acabou se tornando aquela instituição pedante e distante da vida real [...].

 

Além disso, as universidades e, consequentemente, os ginásios passaram a ser controlados com mais rigor. O comportamento de professores que supostamente tinham influência sobre os pensamentos e as ações dos alunos passou a ser regulamentado tanto na esfera profissional quanto na esfera privada. [...] As aulas deveriam servir exclusivamente à transmissão de conhecimentos, não à discussão de acontecimentos políticos.

 

Assim, lê-se em um decreto de 30 de outubro de 1819 que nenhum professor “pela tendência de suas aulas, incite a juventude à arrogante presunção de achar que lhe competiria ter opinião própria acerca dos acontecimentos atuais e dos assuntos públicos [...] ou até mesmo a colocar em andamento uma sonhada melhoria na ordem das coisas”. [pp 113-4]

 

JUDICIÁRIO

A política de reformas da Prússia [...] chegava definitivamente a seu fim. Por causa de sua crítica aos decretos de Karlsbad, Wilhelm von Humboldt foi exonerado de todos os seus cargos públicos. Contudo, o governo prussiano teve dificuldades em impor sua política de repressão perante os tribunais. Não porque os tribunais fossem simpáticos às ideias [...] dos processados, mas antes porque muitos juízes insistiam no cumprimento das disposições legais. Não queriam punir meras intenções, mas delitos que houvessem de fato ocorrido.

 

E.T.A. Hoffmann descreveu satiricamente o espírito da repressão nascente em seu conto “Meister Floh” (Mestre pulga), de 1822. [...] O herói de seu conto é acusado de ter raptado uma “dama distinta”. O conselheiro Knarrpanti – caricatura do então chefe de polícia de Berlim e posteriormente ministro da Justiça da Prússia Karl Albert von Kamptz –, que investiga o caso, responde à objeção de que, na verdade, rapto nenhum teria acontecido, com as seguintes palavras:

 

‘Uma vez determinado o criminoso, encontra-se o crime cometido naturalmente. Somente um juiz superficial e leviano – mesmo quando não for possível confirmar a acusação principal por teimosia do acusado – é incapaz de interrogá-lo de tal maneira que se consiga descobrir um mínimo defeito qualquer, justificando assim sua detenção.’

 

[...] “Meiter Floh” foi censurado [...] só pôde ser publicado sem censura em 1908. [p. 85]